segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Individuo - sua formação

O poder do AGORA na construção do sentir e enxergar a história.

Roberta Gonçalves Machado Vilaça
Mestre em Educação
Colégio Anglo de Itaúna


Resumo: Nesse artigo será trabalhado, o tempo e a construção do individuo na história. No norte de que eles se realizam perante o sentir e o enxergar sem as ilusões propícias do inconsciente, pois essas nos levam a sentir e a enxergar de forma surreal os objetos e acontecimentos. Para que essa visão ilusória não se torne uma constante é necessário que aprendamos a sentir e enxergar o processo de iluminação de cada individuo. Para tanto irei basear-me na teoria de Walter Benjamin. assim.

Palavras – chave: Cultura, História, Sociedade, Walter Benjamin.




A imagem que surge no campo visual da intuição alegórica é o fragmento, a ruína sua beleza simbólica se evapora, quando o clarão do saber divino o ilumina. O falso brilho da totalidade se extingue. O eidos se apaga, o símile se instala, o cosmos que o habita se esgota. Nos rebus áridos, que restam jas uma intuição, acessível a quem rumina. As alegorias são no reino do pensamento o que as ruínas são no reino das coisas. A visão completa do novo era a ruína.
Walter Benjamin

Na vida não existe antecipação nem adiamento, somente o tempo propício de cada um, diante de que “a torrente das coisas se quebra no rochedo do assombro, e assim não existe nenhuma diferença entre uma vida humana e uma palavra.” (BENJAMIN, 1994), assim como não existe diferenças entre a humanidade e a natureza.
A humanidade, em geral, recebe as sementes do crescimento a todo instante, é emitido idéias de progresso e de desenvolvimento, devendo cada indivíduo absorver a sementeira de acordo com suas possibilidades e habilidades, pois, “ele faz a existência abandonar o leito do tempo, espumar muito alto, parar um instante no vazio, fulgurando, e em seguida retornar ao leito.” (BENJAMIN, 1994), sem tempo determinado o crescimento se faz por entre pensamentos e coisas, ou seja, na visão benjaminiana entre alegorias e ruínas, construídas pela rememoração e no poder do agora.
Dessa forma podemos rememorar que como a natureza em seu leito nos presenteia com uma diversidade incontável de flores, que nos encantam e fascinam é também assim o nosso jardim de humanos e certamente não as depreciaríamos apenas por achar que vários botões já deveriam ter desabrochado dentro de um prazo determinado por nós, nem as repreenderíamos por suas tonalidades não serem todas iguais conforme nossa maneira de ver, “refiro-me ao procedimento da montagem: pois o material montado interrompe o contexto no qual é montado.” (BENJAMIN, 1994) não podemos interferir no agora de cada indivíduo que está em construção.
Dessa forma, nem poderíamos sequer compará-las com outras flores de diferentes jardins, por estarem ou não mais viçosas, porque agindo dessa forma estaríamos determinando um caminho, ou seja, estaríamos a orientar-las a uma “recepção num sentido predeterminado” (BENJAMIN, 1994) estaríamos interrompendo seu processo de iluminação.
Deixemos que elas possam, germinar, crescer e florir, segundo sua natureza e seu próprio ritmo espontâneo. Isso será sempre mais óbvio, apesar de elas inquietarem o “observador, que pressente que deve seguir um caminho definido para se aproximar delas” (BENJAMIN, 1994) e muitas vezes interrompemos o procedimento do crescimento individual por pensarmos pelo individuo em crescimento.
Pois, parece racional que ofereçamos a quem amamos o mesmo consentimento, porque cada ser tem seu próprio marco individual nas estradas da vida, e não nos é permitido violentar sua maneira de entender, comparando-o com outros, ou forçando-o com sua impaciência para que cresçam e evoluam como nós achamos que deveria ser, “devem a essa circunstância o seu lugar privilegiado na história da arte e sua capacidade de marcar, com seu próprio ponto de vista, toda a evolução [...]” (BENJAMIN, 1994)
Devemos exercitar nossa sensibilidade e dessa forma sentir e enxergar que cada um de nós possui diferenças exteriores, tanto no aspecto físico como na forma de vestir, de sorrir, de olhar, de falar, de expressar. Por que então deveríamos florescer a toque de caixa? Devemos respeitar o agora de cada ser, pois como nos relata Benjamin, enquanto uns festejam o reencontro com a escrivaninha para os estudos diários, outros a enxergam como palco para exercer outro tipo de ocupação como a decalcomania e dessa forma em um instante, no lugar antes tomado pelo tinteiro, surge uma xícara de água morna, e o individuo começava a recortar as figuras.
O respeito para com a realidade de cada ser nos faz perceber o que a ansiedade provoca, são seqüestros emocionais os quais nos remete a sentir e enxergar de forma surreal as situações, pois, elas existem apenas em nosso pensamento, no nosso tempo e nossa verdade, paremos por um momento, respiremos fundo e dessa forma constatamos a nossa inconsciência e essa nos leva ao despenhadeiro de ilusões, porque não estamos no agora e nos deixamos levar pela ansiedade.
Mas é preciso que enxerguemos que a nossa ansiedade não faz com que as árvores dêem frutos instantâneos, nem faz com que as roseiras floresçam mais ligeiro, respeitemos, pois, as possibilidades e as limitações de cada indivíduo, de sua trajetória, isso nos leva a constatação de que a “história e temporalidade não são portanto, negadas, mas se encontram, por assim dizer concentradas no objeto.”(GAGNEBIN, 2004)
Tentemos compreender a multiformidade evolucional dos homens, a dissemelhança dos indivíduos para que convivamos com mais sensibilidade para com o mundo e seus habitantes , não queiramos ser como o

cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um de seus momentos. Cada momento vivido transforma-se numa citation à L`ordre du jour – e esse dia é justamente o do juízo final. (BENJAMIN, 1994)

Para tanto é necessário apreciarmos o terreno em que são germinadas as sementes, algumas são perdidas pelo caminho e os pássaros as comem, essas sementes representam as mentalidades bloqueadas e restringidas, que recusam todas as possibilidades de conhecimento que as conteste, ou mesmo, qualquer forma que venha modificar sua vida ou interferir em seus horizontes, são mentes de compreensão diminuta ou quase nula, essas mentes não conseguem enxergar que o “verdadeiro rosto da história afasta veloz.” (BENJAMIN, 1994) e persistem em permanecerem fechadas em seu terreno.
Outras sementes são semeadas em terras pedregosas, onde não há muita terra, mas logo brotam, entretanto, ao surgir o sol, queimam-se porque a terra é pouca e suas raízes não são suficientemente profundas é a “preguiça do coração, da acedia, que desiste de dominar a verdadeira imagem histórica, a que brilha de modo fugidio.” (BENJAMIN, 1992)
Dessa forma logo se tornam ressecadas, porque não suportam o calor das provas, são mentes flutuantes, que torram seus projetos e intenções por qualquer deslize ou obstáculo. “Na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo para si mesma. Sua auto – alienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem.” (BENJAMIN, 1974) é a barbárie sempre presente na cultura, independente do tempo.
Afinal nossas bases foram recolhidas nas experiências do ontem, são raízes do passado que nos dão manutenção no presente para ir adiante, nos processos de iluminação, reconhecendo o limite imposto pelo egoísmo individual.

“ “Entre os atributos mais surpreendentes da alma humana” diz Lotze, “ está ao lado de tanto egoísmo individual, uma ausência geral de inveja de cada presente com relação a seu futuro”. Essa reflexão conduz-nos a pensar que nossa imagem da felicidade é totalmente marcada pela época que nos foi atribuída pelo curso da nossa existência. A felicidade capaz de suscitar nossa inveja está toda, inteira, no ar que já respiramos, nos homens com os quais poderíamos ter conversado, nas mulheres que poderíamos ter possuído. Em outras palavras, a imagem da felicidade está indissoluvelmente ligada a da salvação.” (BENJAMIN, 1974)

Não encontramos a salvação, devido a estarmos com os caules rasos, ou seja, eles não são suficientemente profundos e antigos, há bloqueios tanto em nossa consciência intelectual quanto emocional, um mecanismo que opera de forma a assimilar somente o que se pode digerir daquela informação ou ensinamento recebido, presos a um dogmatismo, seja esse de qualquer ordem, não esqueçamos que

nosso lema ... deve ser: reforma da consciência, não por meio de dogmas, e sim pela análise da consciência mística, obscura a si mesma, seja em sua manifestação religiosa ou política. Ficará claro que o mundo há muito possui o sonho de uma coisa, da qual precisa apenas possuir a consciência para possuí-la realmente. (Carta de Marx a Ruge; Kreuzenach, setembro de 1843)

Assim a disponibilidade de perceber a realidade das coisas funciona nas bases do potencial e da viabilidade de aprendizagem de cada um, portanto, impor às pessoas que sejam sensíveis ou que progridam, além de desrespeito à individualidade, é fator perigoso e destrutivo para exterminar qualquer tipo de relacionamento, é necessário apreciarmos o belo com a liberdade no sentir e no enxergar, como nos leva a refletir Benjamin a verdade é individual, portanto relativa, sendo assim não devemos deixar que os espinhos obscureçam a beleza da folhagem, ressaltando segundo a escrita de Gagnebin, um dos aspectos mais instigantes do pensamento benjaminiano: a importância dos detalhes, dos objetos e dos costumes cotidianos, das coisas pequenas que passam desapercebidas.
Afinal os espinheiros que ao crescer abafaram as sementes, representam as idéias sociais, que impermeabilizam a mentalidade dos seres humanos, as leis do Torah asfixiavam e regulamentavam não somente a vida privada, mas também a pública, pois, a “barbárie está inserida no próprio conceito de cultura: como conceito de um tesouro de valores considerado de forma independente, não do processo de produção no qual nasceram os valores, mas no processo no qual eles sobrevivem. Dessa maneira, servem à apoteose deste último, não importando o quão bárbaro possa ser.” (BENJAMIN, 2006)
Diante da luz desse conhecimento, os indivíduos que não pensam por si mesmos acabam caindo nos domínios das normas e regras, sem poder erguer em demasia a sua mente, restrita pelas idéias vigentes, o que os sentencia a viver numa frustração grupal, visto que seu grau de raciocínio não pode ultrapassar os níveis permitidos pela comunidade, na visão benjaminiana, para que essa seja ultrapassada se faz necessário que a humanidade despeça de seu passado reconciliada e uma forma de reconciliação com o passado é a alegria.
É necessário que combatamos sistematicamente os espinhos da opressão, nos indivíduos que observam com rigor rituais e determinações das leis, em detrimento da pureza, assim poderemos desqualificar todo espírito de castas entre as criaturas de sua época,
O que Schlosser poderia replicar àquelas recriminações, de ressentido rigor moral, seria o seguinte: que na história e na vida em geral, diferentemente do que ocorre na novela e no romance, não se adquire uma superficial alegria de viver, por mais serenos que sejam os sentidos e o espírito; que a contemplação da história pode não inspirar desprezo ou misantropia, mas, decerto, uma visão severa do mundo e firmes princípios de vida , que pelo menos no que diz respeito aos maiores juizes da vida e dos homens, aos que souberam medir a vida exterior a partir da sua própria vida interior, a um Shakespeare, um Dante, um Machiavel, a essência do mundo sempre provocou tal impressão que conduz à seriedade e ao rigor. (BENJAMIN, 2006)

Essa consciência expressa anteriormente por Benjamin, poderia ser identificada como as sementes que caem em terreno fértil e geram bons frutos. Nossos patrimônios de entendimento, de compreensão e de discernimento não ocorrem por acaso, a boa absorção ou abertura de consciência acontece somente no momento em que não nos prendemos na forma e sim aprofundamos no conteúdo real quer dizer, quem não enxerga além das aparências, enxerga apenas formas, pois

O belo permanece na esfera da aparência, palpável, enquanto se reconhecer abertamente como tal. Manifestando-se como aparência, e seduzindo enquanto não quiser ser mais do que isso mesmo, atrai a perseguição do entendimento e torna reconhecível a sua inocência apenas no momento em que refugia no altar da verdade. (BENJAMIN, 1974)

Mas para que isso ocorra é necessário senso e noção, base e atributos que requerem tempo e cada individuo possui o seu tempo para se desenvolver convenientemente, pois, a consciência do individuo para que seja receptiva, precisa estar munida de despertamento natural e amadurecimento intelectual e emocional, a vida exterior e a interior precisam estar em harmonia, para que possamos sentir e enxergar o outro em sua plenitude.
Para tanto é preciso que aceitemos plenamente a diversidade humana, e acabemos com qualquer tipo de nivelamento entre os indivíduos e assim possamos enfim começar a entender que o melhor apoio que podemos prestar aos nossos semelhantes é simplesmente esperar em silêncio e com paciência.
Portanto, compreendamos que a nós, somente, compete semear, sem esquecer, porém, que o crescimento e a fartura na colheita dependem da chuva da determinação humana e do solo generoso da consciência do individuo, onde houve a semeadura, sentindo e enxergando o real valor e o poder do agora na construção de uma nova história entre os jardins da humanidade.









Referência Bibliográfica:

BENJAMIN, W. Passagens. Trad. Irene Aron. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. Trad.Marcus Vinícius Mazzari – 1ª.. ed. – São Paulo: Editora 34 Ltda, 2002.

BENJAMIN, W. Magia e Técnica, arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura – Obras Escolhidas Volume I. Trad. Paulo Sérgio Rouanet – 7. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1974.
BENJAMIN, Walter. (1925). Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BENJAMIN, W. Rua de Mão Única - Obras Escolhidas Volume II. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho – 5. ed. – São Paulo: Brasiliense, 1995.

BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. Trad. Marcus Vinicius Mazzari – 1. ed. – São Paulo: Editora 34 Ltda, 1995.
BENJAMIN, W. O conceito de crítica de arte no romantismo alemão. Trad. Márcio Seligmann-Silva - Iluminuras, 1993.
BENJAMIN, W. Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política. Trad. Maria Luz Moita, Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto – Lisboa: Relógio D`Água, 1992.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. GARBER, Klaus.Por que um mundo todo nos detalhes do cotidiano? História e Cotidiano em Walter Benjamin.Revista USP[s/l]: [s/n], [s/d].

GAGNEBIN, Jeanne Marie.História e Narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 2004.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. 7ete sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

MACHADO, Francisco De Ambrosis Pinheiro. Imanência E Historia. 1ª Edição. Belo Horizonte: Editora: Ufmg, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário