domingo, 27 de junho de 2010

COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS...

Mundos e Sonhos na Construção dos Saberes
Roberta Machado

No decorrer da disciplina Tópicos Especiais de Pesquisa Educacional , ministrada pela professora Doutora Glória Moreira, foi proporcionada a oportunidade de visualização e aprendizagem dos aportes teóricos, dos convidados, professores Doutores na Universidade de Itaúna, assim como a caminhada de cada um deles para a construção dos saberes os quais perpassam todas as caminhadas acadêmicas.
Desses mundos e construções de saberes da trajetória acadêmica, iremos destacar o trabalho do professor(a) convidado(a), os autores e as metodologias (instrumentos) utilizados por eles. Para tanto, iremos seguir linearmente as apresentações sem ficarmos presas ao mundo do saber.
A primeira apresentação foi a da professora Doutora Maria José Morais, que falou sobre a indisciplina nos ambientes escolares. Ela utilizou como metodologia a pesquisa qualitativa, a qual possui como principais características a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador é um interpretador da realidade, palco do qual a professora Doutora Maria José pode apreciar sua pesquisa. Como procedimento: história oral, ou seja, realizou o registro da história de vida de indivíduos que, ao focalizar suas memórias pessoais, construíram também uma visão mais concreta da dinâmica de funcionamento e das várias etapas da trajetória do grupo social ao qual pertencem. Muitas dessas memórias são chamadas de subterrâneas, porque ficam à margem da história oficial. Registrando as experiências vividas pelos informantes em fitas magnéticas de audio ou vídeo, ela é um instrumento fundamental para a compreensão do passado recente. O pesquisador social, com o desenvolvimento do método da História Oral, não mais depende unicamente dos textos escritos para estudar o passado.
Este instrumento de coleta de dados também possibilita que indivíduos pertencentes a categorias sociais geralmente excluídas da história oficial possam ser ouvidos - deixando registradas, para análises futuras, sua própria visão de mundo e aquela do grupo social ao qual pertencem. Este método apresenta um caráter novo e envolvente, porque pressupõe uma parceria entre informante e pesquisador, construída ao longo do processo de pesquisa e através de relações baseadas na confiança mútua, tendo em vista objetivos comuns. Constrói-se assim uma imagem do passado muito mais abrangente e dinâmica.

A pesquisadora utilizou-se de entrevistas, pois, a pesquisa qualitativa é geralmente associada à pesquisa exploratória interpretativa, enquanto a pesquisa quantitativa é associada a estudos positivistas confirmatórios.
O seu referencial teórico foi baseado em Foucault, Bourdieu e Durkhein, uma triangulação do pensamento ocidental pós – estruturalista (?). Ela realizou entrevistas com duas professoras com diferentes perfis, comportamentos e práticas pedagógicas. Utilizou fotos e imagens como ilustração. A professora contou detalhes da história de vida de cada uma das professoras entrevistadas, relacionando-as com a prática educativa.
A professora explicou que a história oral insere-se entre diferentes procedimentos do método qualitativo, trabalha com as pessoas na sua individualidade. Os processos metodológicos não são explícitos, sendo o que se quer conhecer, induzido e estimulado pelo pesquisador, no contato com o pesquisado. Na história de vida, o passado é espelhado no presente, que explode em direção ao futuro, reproduz a dinâmica de vida pessoal, em conexão com os processos coletivos, segundo o olhar do depoente
O segundo pesquisador a relatar sua experiência foi o professor Doutor José Peixoto Pereira Filho, que apresentou o trabalho: A travessia do popular na contradança da educação, abordando o MEB – Movimento de Educação de Base, que foi, nos anos sessenta, uma proposta para a construção de uma cultura com características mais brasileiras. Esse movimento é a tentativa de se aplicar uma idéia de educação, que visaria a construção do país. Em sua teorização, o autor usou Paulo Freire e, posteriormente, Gramsci, que muito influenciou todos os movimentos populares na América Latina. Este autor rompeu com a terra seca dos frutos sem vida do marxismo-leninismo e sua interpretação do mundo, ao propor uma outra concepção de entendimento do estado, da cultura e dos intelectuais, uma gota na terra seca que faria o começo de um novo fruto, que busca mostrar a riqueza e a mobilidade dos grupos e papel que o intelectual no processo de transformação da sociedade. Para ele, a educação é mais uma prática social e como tal deve ser vista como mediadora das demais práticas sociais. Se a vemos como um processo que busca, através da reflexão consciente sobre a realidade, a elaboração de soluções para os problemas que o homem enfrenta, quer seja no seu cotidiano (e aí ela assume também uma função prática imediata), quer seja enquanto momento e espaço onde se permite pensar projetos mais amplos, contribuindo assim para a reflexão da realidade social.
O autor reflete sobre a educação, pensando-a como um sonho. E nos leva a refletir a respeito de que, sonhos que sonhamos sozinhos são apenas sonhos. Sonhos que sonhamos com outras pessoas, podem se tornar realidade. Pois já não sou eu quem pensa, mas nós. Se sonharmos juntos, geraremos realidades possíveis de serem construídas. A forma de se alcançar os resultados almejados, ou seja, o caminho a seguir, depende de cada um que se propõe a esta empreitada.
O professor convidado do terceiro seminário foi o Doutor José de Sousa Miguel Lopes que discorreu sobre sua dissertação, que fala sobre a Cultura Acústica e Letramento em Moçambique em busca de fundamentos antropológicos para uma educação intercultural. Ele destacou em sua explanação o impacto que provoca a introdução de uma língua em sociedade onde prevalece a tradição oral, como é o caso Moçambique. O professor Miguel conta que, por sua orientadora não possuir experiência na área, pediu ajuda à professora Doutora Magda Soares da UFMG, que, na ocasião, estava oferecendo uma disciplina que se adequou plenamente ao que ele precisava.
Sua pesquisa foi realizada a partir do levantamento de um elevado número de livros e artigos sobre a temática por ele proposta, publicados em língua inglesa, francesa, espanhola e portuguesa, disponíveis nas bibliotecas da Pontifica Universidade Católica de São Paulo, da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais, do Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, além de outras instituições.
Com o levantamento bibliográfico realizado, o autor obteve referências analíticas necessárias à compreensão do modo como se configurou a problemática do letramento e da cultura acústica, particularmente no caso particular moçambicano.
O seu trabalho foi uma proposta que reuniu as dimensões antropológica, histórica, política, econômica e social, buscando verificar como elas interagiam com o sistema educativo.
Confirmando nosso olhar sobre um pensador original, eis a sua fala: “O hibridismo de que sou portador, resultado de forte marcas culturais européias e africanas que fui incorporando ao longo de minha trajetória de vida, talvez possa ter contribuído, em alguma medida, para facilitar tal análise comparativa, atenuando essas inquietações.” (MIGUEL, 2004, p.47), causadas por ele ser sensível às transmutações culturais.
O quarto seminário foi o do professor Doutor Wagner José Moreira, que utilizou como aporte teórico os autores: Gilles Deleuze, Félix Gattari e Walter Benjamin. As categorias utilizadas por ele, são: alegoria, tempo não linear, decalque, multiplicidade, cultura significante, rizoma, .......?.
Ao se dedicar à descrição do que seja o Rizoma, o professor se utilizou do quadro negro para explanar sobre três momentos históricos, quais sejam: o iluminismo, a modernidade e a pós-modernidade. No iluminismo, as características são: o eu profundo, consolidado, bem pensado, que pode se expressar numa lógica binária, um pensamento de tipo vertical e, conseqüentemente, autoritário e, possivelmente, excludente. Ele deu como exemplo figurativo deste momento, a imagem de uma mangueira, que, fixada em sólidas raízes, se eleva em direção ao alto, de forma rígida e estável. Na modernidade, as características citadas foram: também excludente, talvez ainda por causa do pensamento binário, desejo de encontrar um centro, um pensamento vertical, tendo como base uma raiz central e raízes secundárias (que Deleuze chama de “radículas”); o exemplo dado foi o de uma jaboticabeira. Na pós-modernidade, que ele preferiu chamar de contemporaneidade, as características citadas foram: um pensamento não excludente, que inclui a lógica binária, mas que pode ser ternária ou mais; tem-se a impressão de que tudo vale, há a tendência a um descentramento, o trabalho é elaborado com a ajuda de todos os sentidos e modelos; o exemplo dado, foi uma plantação de batatas, em que encontramos raízes, mas estas não são tão volumosas e sólidas como as outras árvores citadas e estas mesmas raízes interagem e interdependem umas das outras, formando redes que se comunicam; o pensamento não é mais vertical, embora este tipo de pensamento possa estar presente, juntamente com outros tipos.
O pesquisador em sua didática e comportamento demonstra toda a influência de seu aporte teórico : Deleuze, Guatarri e Benjamin.
O último seminário foi o do professor Doutor Cláudio Lúcio Mendes, que trabalhou com etnografia. Iniciou com a expressão “Etnografia da (em) Educação”, explicando que tanto o “da” como o “em” podem ser empregados. O primeiro refere-se a aspectos ligados à linguagem. Já o segundo, se relaciona ao emprego de técnicas para se realizar um trabalho em espaços educacionais, utilizando-se da antropologia.
O professor Cláudio pontuou que, ao longo da história, os europeus sempre tentaram identificar “os outros”, tendo como referência o protótipo de homem europeu branco, macho e heterossexual. A partir disso, questionavam sobre o que seriam esses outros se fugissem a tal padrão. Isso se refere ao etno, segundo o qual, havia uma diferença (biológica, genética), observável, relacionada à cultura, interferindo nas atitudes, até mesmo na estética.
Ao tratar propriamente da etnografia, o professor relatou que ela nasceu no século XIX com a questão da cultura erudita. É preciso ressaltar que hoje se deve considerar a cultura dentro de certos contextos e ainda, que ela não é algo fixo. Nessa perspectiva, quando se vai descrever algo, esse algo já não é mais o que era, posto que mudou. Assim, torna-se difícil identificar, atualmente, um centro produtor de cultura.
A professora Glória, complementou, pontuando que a antropologia nasceu da filosofia para estudar o homem. Ela ainda disse que uma das maneiras de estudar as culturas é através da etnografia, por meio de observação sistemática. O professor Cláudio relatou que também se pode usar da etnografia na sociologia. Esta nasceu estruturalista (apesar de aquela não ser, pelo fato de se preocupar mais com a microestrutura).
É preciso salientar, contudo, que o professor não é um especialista em etnografia. Mas, pode-se dizer que ele é um estudioso da etnografia, posto que, utilizou técnicas etnográficas em suas pesquisas de mestrado e doutorado. Sua tese de doutorado abordou a questão dos jogos eletrônicos como um processo de subjetivação. Todo o seu processo acadêmico foi fundamentado em Foucault, com contribuições de Deleuze e Wittgenstein.
Dessa forma fica expressa nossa gratidão ao espaço cedido pela professora Doutora Glória Moreira aos pesquisadores convidados para o nosso crescimento intelectual o qual foi relevante em nossa caminhada entre mundos e sonhos na construção dos saberes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário