domingo, 27 de junho de 2010

Luz & Trevas : um caminho a ser escolhido

Roberta Gonçalves Machado Vilaça
Mestre em Educação
Colégio Anglo de Itaúna



Resumo: Nesse artigo irei promover um diálogo com a arqueóloga, Niéde Guidón, sobre o caminho a ser percorrido pelo gênero humano e sua responsabilidade ao escolher a “luz” ou a “treva”, na perpetuação da história de seu semelhante. Esse dialógo foi permitido perante a apresentação do texto pelo “olhar” do professor Doutor José de Sousa Miguel Lopes, no curso Educação Intercultural.

Palavras – chave: Sociedade, História, Cultura.



Como na praia a vento
recorro ás respostas tal
empurro o pensar na direção
do sol vejo-me ao espelho.
Na madrugada onde repouso
meu dia a dia fixo na madeira
esculpida tal sentida
meus percurso vão do ocidente ao oriente
encantamentos universo florindo
poemas onde rimas feitas
pelo vocabulário entreluzido
no questionário do prazer.
Valentia filhos de tantas lutas
deste mundo ausente de parcos
desvenda horizontes
das ameaçadas extinção.
corri sobre as nossas coragem
alcança estrela finita
dos olhos infantis filamentos
coberto democracia final.
Um poema te dou em horas que passo
pelo fio olhar.
Valmir Viana


Assumir total responsabilidade por todas as coisas que acontecem em nossa vida, incluindo sentimentos e emoções, é um passo decisivo em direção a nossa maturidade e crescimento interior. A tendência em acusar a vida, as pessoas, a sociedade, o mundo enfim, é tão antiga quanto o gênero humano e muitos de nós crescemos aprendendo a raciocinar assim, censurando tudo e todos, nunca examinando nosso próprio comportamento, que na verdade decide a vida em nós e fora de nós.
Com essas inquietações venho encontrar as reflexões da arqueóloga Niéde Guidón, que as deixa registrada em uma carta, a qual nos foi apresentada pelo professor Doutor José de Sousa Miguel Lopes ao ministrar o curso, Educação Intercultural, para a terceira turma do Mestrado em Educação da Universidade de Itaúna, no primeiro semestre de 2007.
As dores para com o futuro apresentadas pela arqueóloga em sua carta, em especial, sua preocupação com o homem, onde ela diz “meu caro colega, mesmo não sabendo como você é, talvez uma máquina inteligente, escrevo-lhe como se estivesse dirigindo-me a um homem.” ( GUIDÓN, 2004) Homem? Uma concepção desde já machista, pois refere ao gênero humano, entretanto, imbuída pelo seu aprendizado tradicional diz dirigir-se ao homem, pois bem, mesmo assim venho lhe responder minha cara arqueóloga, que o “homem” nesse tempo em que escrevo, já é máquina, infelizmente os seus receios a cada instante tornam-se mais reais o niilismo é escancarado nesse tempo, e sua fala sobre o início do gênero humano é causa de rememorações saudosistas, como quando “os homens viviam como caçadores-coletores” (apud, 2004), um tempo em que era partilhado o alimento, hoje minha cara, não é mais assim. Ao passar pelos grandes centros encontramos em cada esquina um gênero humano humilhado pela dor da fome e falta de solidariedade dos homens máquinas.
E o conhecimento? Essa é uma saudade que deixa em meu ser arrepios ao ler em seu registro que um dia o gênero humano de meus sonhos esteve presente, pois, você diz que “para adquirir conhecimento e conviver com as outras espécies da natureza, para sobreviver com os parcos recursos biológicos, que tinham esses homens necessitavam de grande coesão social.” Em lágrimas, venho relatar que o gênero humano deixou de conviver, eles tornaram-se prisioneiros da vaidade e o egoísmo instalou no órgão que era símbolo do sentimento e o coração do gênero humano da atualidade é símbolo de geleira o qual você também irá conviver pelos registros posteriores deixados em sua carta, entretanto, em menor profundidade.
O saber hoje não é mais compartilhado ele é comprado e os poucos gêneros humanos que possuem um pouco da sensibilidade que a muito já perdeu o valor nesse tempo, são seres expostos em zoológico. Você chegou a conhecer o zoológico? Penso que no seu tempo os animais selvagens também eram respeitados, entretanto, na atualidade eles nem existem mais, o homem máquina, depredou a natureza com a vaidade e os selvagens que vivem escondidos nas matas, essas poucas na atualidade, e no zoológico, são os gêneros humanos que relutam a entregar-se ao símbolo da geleira, esses poucos ainda partilham do amor e a fé na humanidade.
Como lhe disse a natureza está abalada, o céu que no seu tempo devia possuir ainda a bela cor azul, hoje é cinza, a poluição é tão absurda que nem mesmo o céu foi poupado da ganância do homem-máquina, no seu tempo os homens temiam a natureza? Porque você diz que o gênero humano temia “a natureza, reconheciam seu poder, um poder que, emanava de entidades sobrenaturais. E essas entidades sobrenaturais comandavam as águas, os ventos, o fogo, os astros.” (apud, 2004) que ironia, minha querida na atualidade os homens máquinas pensam que eles, são o próprio poder, você registrou essa parte? Sim, lembro de ter visto em sua carta, que a água era vendida pelo homem. Mas você não pode imaginar a dimensão dessa atitude de ambição, o gênero humano é quem dirigem as águas, essa está quase no fim, você poderia imaginar que isso iria acontecer? É está acontecendo, o nosso planeta água está agonizando.
Você vivenciou períodos da história que construíram o que vivemos, como por exemplo, a garantia do poder a qual você relata “em um dado momento de nossa história, alguém imaginou como fazer para garantir um poder mais duradouro, que não dependesse unicamente dos recursos biológicos. Os Deuses!” (apud, 2004) A partir desse momento o gênero humano assimilou o “mito do vitimismo”, aprendeu a justificar com desculpas perfeitas os desastres de comportamento, dizendo que foi desamparado pelos “deuses”, que a conjunção dos astros não estava propícia, que a lua era minguante e que nasceu com uma má estrela. Ainda muitos de nós acreditamos ser vítimas do pecado de Adão e Eva e da crença de um deus judaico que privilegia um povo e despreza os outros, quantos absurdos ainda iremos presenciar nessa luta pelo eu mais forte.
Contudo “as sociedades começaram a crescer além dos limites permitido pela natureza.” (apud, 2004) é nesse contexto que para continuar garantindo o poder o gênero humano foi aperfeiçoado sua habilidade para o mal, concentrando o poder naqueles que podiam obter conhecimento e a divisão de classes se fez absurda diante de seres que um dia conviveram em coesão e harmonia, nesse momento de sua carta, chego a duvidar se realmente existiu esse tempo de respeito entre o gênero humano, a natureza e os céus.
Pois o cenário descrito pelas páginas de sangue realizadas pelo gênero humano é assustador são assim relatadas pela sua experiência onde enxergava “homens torturando,matando, chacinando outros homens. Vimos a Idade Média, a Inquisição. A invasão das Américas e o aniquilamento de milhões de seres humanos que compunham os primeiros povos, que partilhavam as terras com todas as outras espécies, que viam o verde das matas e escutavam a algaravia dos bichos.” (apud, 2004) apenas não é mais cruel que a atualidade, onde o poder é individual e não existe compreensão, respeito, amor, paz em lugar algum, o gênero humano enxerga no seu semelhante um obstáculo, um empecilho para o seu brilho e passa destruindo-o com toda a maldade que possa ser imaginada, a pior das guerras está sendo vivenciada na atualidade, o homem máquina é um cadáver, o qual desnudando suas máscaras enxergamos apenas ossos. O Gênero humano destrói seu semelhante por inveja e não mede seus esforços para derrubar aquele que julga estar em seu caminho rumo ao sucesso, onde apenas ele, pode ser a atenção e o brilho nada pode ofuscar sua capacidade, quem não o aplaude não merece viver.
E nem mesmo o período em que é retrato a descoberta de um governo onde se pensavam que existiria igualdade de direitos, foi motivo de alegria para o gênero humano mais sensível, pois, apesar de acreditarem que todos poderiam escolher pelo voto o seu representante, o que não corresponde a realidade, devido a sabermos que isso é ilusão, pois, continua uma minoria “culta” mandando em uma maioria “ignorante” que acredita estar escolhendo seu representante, o seu próprio opressor, os políticos, e com eles vimos “agir o nazismo, o fascismo, o comunismo.” (apud, 2004) e o progresso esse trouxe homens máquinas em evolução assustadora verdadeiros monstros retirados dos contos infantis.
E apesar, de você ter partilhado etapas de tristeza, depredação e dor do gênero humano nada é comparável ao horror em que é vivenciado na atualidade, pois, o seu último registro diz que “destruíram a beleza do mundo, o prazer da vida” (apud, 2004) porém você diz ainda enxergar um pouco do paraíso, na atualidade não é possível enxergar o paraíso. A natureza foi destruída por completo e vivemos um caos, o sol esquenta muito, ele não é artificial ainda, as geleiras estão desgelando e a única geleira ainda preservada é aquela que já lhe retratei, que ocupou o local do coração no gênero humano.
Os animais como também lhe relatei no início de nossa conversa, não existem mais em seu lugar existem aqueles seres estranhos, do gênero humano que não deixaram ser contaminados pela geleira e vivem sem espaço no mundo atual, uns são expostos em zoológicos, peça rara e que não é como em tempos remotos, quando visitávamos o zoológico saiamos embebecidos e contaminados pela beleza dos animais, as crianças são levadas para que possam perceber que não devem deixar de seguir o modismo do homem máquina do coração de gelo e assim preservam a competição. Todos os homens continuam odiando seus semelhantes, devido a isso pobres coitados os Gêneros em extinção lutam sem forças, suas vozes são silenciadas e a alma de tanto que choram chegam a ferir a alma, mas continuam resistindo, entretanto, temo pela perda desses poucos e o futuro esse, será ainda mais terrível, mais amargo, menos colorido e o terror, o qual não tenho força para descrever, mas posso dizer que os poucos arqueólogos que por aqui ainda existem possuem um sonho, o de encontrar um gênero humano que possua coração, pois, esses sabem que ao mesmo tempo, sozinhos ou juntos, o gênero humano, são todos viajantes nas estradas da vida universal, em busca de crescimento e perfeição.
E desses que irei chamar de regenerados, são a esperança de voltar ao mundo da harmonia, porque eles aprenderam a compartilhar deste mundo, contribuindo sempre para a sua manutenção e continuação, e que ao mesmo tempo, por perceberem que recebem à medida que doam, sustentam com êxito esse fenômeno de trocas incessantes.
Os chamo regenerados por serem os reabilitados à luz das verdades eternas, amor, paz, compreensão, esses reconheceram que o erro nunca será motivo de abatimento e paralisação e sim de estímulo e aprendizado. Por isso apesar de raros, seguem adiante, pacientes consigo mesmos e com os outros, ganhando cada vez mais autonomia e discernimento para uma melhor convivência e restauração do respeito entre o gênero humano e dessa forma poderemos ler a vida social, pois estaremos olhando “sem enclausurá-la ou limitá-la ao que pensamos, como ressalta Oswald de Andrade: livre de todas as catequeses, aberta sem adesão a nenhuma fórmula de expressão do mundo, mas apenas sempre em experimentação para “ver com olhos livres”. (ANDRADE,1970)
Perante essa oportunidade nova de convivência, venho despedir-me, minha cara Niéde, e deixo ao mundo o contraste da luz que nos move ao belo e das trevas que nos cegam para que não possamos efetuar uma nova leitura da convivência na terra, porque “somente nessa condição de insatisfação com as significações e verdades vigentes é que ousamos tomá-la pelo avesso, e nelas investigar e destacar outras redes de significações.” (CORAZZA, 2002).
Para que assim em um próximo encontro possamos saborear uma história não de “amargura, aflição e terror” (GUIDÓN, 2004) e sim de alegria, contentamento e amor! Entre a luz e as trevas deixo a vocês do gênero humano a esperança aos que escolherem segui-la muito obrigada.





Referência Bibliográfica:

BACKES, José Licínio[et al]. Educação e diferenças: desafios para uma escola intercultural. Campo Grande: UEDB, 2005.

CARTA MAIOR. “ ao arqueólogo do futuro” (coletânea de textos de Niéde Guidón, Mirian Goldenberg, Alfredo Bosi, Renato Ortiz, Luís Fernando Veríssimo, José Luís Cabaço, Eduardo Galeano, Seattle, Bertold Brecht, Guaicaipuru Cautémoc), 2006, 24 págs.
http://cartamaior.uol.com.br/templates/index.cfm?home

SILVA, Cristina Maria da. Metáforas da cultura: diferença e identidade na leitura da vida social. Revista Espaço Acadêmico, no.67 Dez 2006, 12págs.

















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